O Caráter Destrutivo na terra do Príncipe Melancólico, 1
A
Natureza cobra o seu quinhão mais cedo ou mais tarde. Mas não faz isso com
arrogância ou deliberada mesquinhez. Muito menos de forma discreta, tentando
poupar-se (e nos poupar) de eventuais escândalos que atrairiam olhares curiosos
e inquisidores: ela retoma o seu lugar em horário comercial, na frente de toda
a freguesia. Mas, nós – discretos que somos – nos trancamos num quarto, de
madrugada, pensando estar criando algo de perene, como verdadeiros demiurgos:
um mundo decalcado de outros mundos (não menos passíveis de serem também
destruídos), e ao abrigo dos olhos de todos.
Nossa ingenuidade só é comparável
mesmo à nossa paixão. Na verdade perambulamos por entre extremos, pensando
trilhar um caminho que nos levará à eternidade: imaginamos que, por meio da
nossa capacidade criativa, podemos percorrer uma estrada coberta por pétalas,
perfumada por uma brisa suave de aroma doce, ignorando que a ruína é uma
possibilidade constante e que este caminho, aparentemente tão bem traçado,
pode, num átimo, se transformar num pântano que emite gases venenosos.
Inescapavelmente, a Natureza “surge”
abrindo espaços às custas de nossos sonhos: um rio de lama venenosa, um tsunami
ou simplesmente uma fratura na marcha histórica considerada irrepetível por
mim, por você, por todos os corações e mentes de boa vontade. Com o desastre
vem à tona nossa ignorância mais profunda: o total desconhecimento da Natureza,
obliterada pela cultura.
Mas assim como o desastre, a utopia
reaparece no horizonte: cara ou coroa?
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